Abaixo segue um curta que encontrei no blog do Marcelo Tas. Vincent é um dos primeiros filmes de Tim Burton e já demonstra como seria o estilo do diretor. E, assim como alguns outros trabalhos de Burton, parece ter um viés meio auto-biográfico. De qualquer modo, é muito bom. Eu daria uma nota alta. Nove. Ou dez:
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Todos os posts do mês maio \31\America/Sao_Paulo 2008
Em Hollywood, alguns diretores dão a impressão de aceitar somente projetos que não tenham muito conteúdo.
John Woo, de Missão: Impossível II, é um desses. Michael Bay, de Armageddon, também. E Doug Liman parece estar querendo entrar para o clube. Trabalhando na indústria do cinema desde 1994, ele só começou a ganhar fama em 2002, quando dirigiu o thriller A Identidade Bourne. Seu filme seguinte foi a comédia de ação Sr. e Sra. Smith, de 2005, onde Angelina Jolie e Brad Pitt vivem uma relação de amor e ódio regada a muitos tapas, beijos e tiros de fuzil. Agora, em 2008, Doug Liman lança mais um filme de aventura essencialmente comercial.
Baseado no livro escrito por Steven Gould em 1992, Jumper ( EUA, 2008 ) conta a história de David Rice, um jovem que descobre poder se tele-transportar para qualquer lugar do mundo onde já tenha estado. Mas, ao contrário do que aconteceria em praticamente qualquer trama do gênero, David nem sequer cogita usar a nova habilidade para bancar o herói. Ele passa a roubar bancos, e usa o dinheiro para dar certo luxo aos seus “saltos” ao redor do globo (“jumper”, em português, significaria “saltador”). David também logo percebe que não é o único jumper no mundo, e que está sendo perseguido por Roland, um Paladino. Paladinos, por sua vez, são pessoas normais que consideram os jumpers uma ameaça e por isso os matam.
Na verdade o enredo é menos problemático do que parece. A primeira falha de Jumper consiste no tempo de duração. Os enxutos 88 minutos são insuficientes para explorar a história, revelando defeitos no roteiro. A superficialidade dos personagens incomoda. Eles não apresentam embasamento moral nem os motivos para suas ações, deixando tudo meio sem graça. Claro que a inexistência do tradicional duelo entre o bem e o mal pode ser interpretada como uma abordagem realista, mas em Jumper isso não funciona.
O roteiro simplista gera outro problema: atuações sem convicção. Hayden Christensen, que ficou famoso ao interpretar o jovem Darth Vader nos episódios II e III de Star Wars, não passa da mediocridade no papel de David Rice. O mesmo acontece com Samuel L. Jackson, como Roland. Jamie Bell é o único que se sobressai, na pele de um jumper rebelde, mas também não é nada excepcional.
Os atributos de Jumper acabam sendo os efeitos visuais – realmente muito bons – e a edição aprimorada. Mas não deixa de ser um filme onde quem predomina, citando a saga de George Lucas, é o lado negro da força.
Publicado originalmente na revista News – Nº 73
Venho notando, já há algum tempo, que muitas pessoas não assistem a documentários. Simplesmente se recusam. Alegam que o formato é monótono, que é sempre a mesma coisa, sempre os mesmos temas. Tá certo que em alguns casos isso até pode ser verdade, mas não no novo filme de Martin Scorsese. The Rolling Stones – Shine a Light é um ótimo documentário musical que ninguém pode rotular de mesmice.
A idéia do projeto veio do próprio Mick Jagger, vocalista da banda-título, que sugeriu a Scorsese realizar um filme sobre a turnê A Bigger Bang. O diretor aceitou o desafio, mas resolveu fazer algo sem estádios gigantescos ou um milhão de pessoas em Copacabana. Shine a Light foi rodado durante dois shows do quarteto britânico em Nova York, num teatro razoavelmente pequeno. As câmeras de cinema – bem maiores e mais pesadas que as de TV – destoam um pouco do ambiente, mas captam com perfeição a performance lombriga elétrica afetada de Mick Jagger.
Só que o diferencial do filme, e também sua possível falha, é outro. Os primeiros vinte minutos são making off: entrevistas, montagem de palco, a eleitoreira visita da família Clinton aos bastidores. Tem até Martin Scorsese atuando, numa caracterização do que ele acha que é ele mesmo. A partir daí o documentário passa a mostrar o show propriamente dito e esquece que dinamicidade é possível. Shine a Light passa longe de ser chato, mas uma maior interação entre as canções e as declarações irreverentes dos roqueiros, por exemplo, seria inteligente.
Quanto ao repertório musical, tudo que é tocado é saudável aos ouvidos. Inclusive quando alguns convidados dão o ar da graça, como Jack White e Christina Aguilera. Mas o melhor é Buddy Guy, definitivamente. O cara (de 71 anos) é guitarrista e cantor de blues e rock e podia ser membro oficial dos Rolling Stones, tal a sintonia com o grupo. A participação dele inclusive é umas das seqüências mais bem fotografadas do filme. Pena que, com tudo isso, Scorsese teve preguiça de fazer uma edição mais caprichada.
Publicado originalmente no jornal Pois É – Nº 16
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Era madrugada, eu estava sem sono. Fui para a TV e liguei no Canal Brasil. Para minha surpresa o filme que estava começando não era nenhum pornô típico do horário. Era Faca de Dois Gumes, um suspense.
Eu nunca tinha ouvido falar desse título, o que realmente deve ter sido uma desatenção minha. O filme é deveras bom para não ser comentado por aí. Se bem que no Google não achei um still sequer relativo a ele. Só esse cartaz de resolução duvidosa, mostrando Paulo José com uma meia na cabeça. Bem, a trama de Faca de Dois Gumes é a seguinte: Jorge Bragança é um advogado proveniente de família ilustre que descobre a traição de sua mulher com seu próprio sócio. Num momento de raiva e lucidez, planeja o crime perfeito e então mata os dois, na cama. Bragança logo descobre, porém, que seu sócio devia alguns milhões de dólares a um grupo misterioso, que passa a persegui-lo em busca do dinheiro.
Além de Paulo José – muito bem no papel protagonista – o filme ainda conta com José de Abreu interpretando um investigador da polícia e Marieta Severo como a viúva do sócio. Paulo Goulart e José Lewgoy também fazem aparições. Apesar de constante, o elenco não foi o destino de nenhum dos quatro Kikitos embolsados por Faca de Dois Gumes. Em 1989 o filme foi vencedor dos prêmios de direção, fotografia, edição de som e cenografia no Festival de Gramado.
Outra categoria na qual o filme poderia ter ganhado era trilha sonora. As músicas são todas basicamente em guitarra, criando um envolvente clima de “suspense em final de década de 80”. O compositor, Victor Biglione, só foi ganhar um Kikito ano passado, por seu (também excelente) trabalho em Condor – em cartaz essa semana em Porto Alegre. E o mais intrigante é que o diretor desse último filme, Roberto Mader, foi figurante justamente em Faca de Dois Gumes, quase vinte anos atrás. São coincidências como essa que me fascinam pelo cinema.